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quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Sessão 'Flash Back'! - Parte IV


Nessa sessão ainda sobre 'causos antigos', vale ressaltar a participação mais do que especial da minha 'old friend' Natália, a Nataly, nessa postagem do blog. Como venho ilustrando todas com fotos sobre o que tá escrito (cabe recurso!), dessa vez não poderia ser diferente. Mas como aqui há uma carência grande desse cenário específico, pedi para que minha amiga, leitora, colaboradora e manguaceira internacional fizesse e mandasse um registro da locação em questão. Podia ficar muito melhor (ela tem crédito! rs), mas a sequela e a preguiça são uma merda! Valeu, Nataly, essa é pra você!!!


O PASTEL CHINÊS

Acredito que nós homens (e os boiólas-baitôlas também) nos identificamos com certos animais ao longo de nossas vidas, como naquela piada da “Idade do Condor”, ou a dos “Estágios do Porre”, etc. Portanto, não é difícil encontrarmos sujeitos se comportando como macacos, porcos, ou viadinhos. Se eu quissese me classificar como bicho, lembraria da “fase animal” mais longa que passei (durou mais ou menos uns 30 anos) como um parente de avestruz. Podia também se chamar “fase bode”, porque esses bichos comem qualquer merda que vêem pela frente. Pois é, o meu estômago era igual a uma pia de cozinha americana, aquela em que você vai jogando qualquer coisa e empurrando pro triturador de lixo processar.
Isso me faz lembrar a época que eu, junto com um companheiro de manguáça daqueles anos, trabalhava numa empresa na Av. Almirante Barroso no centro do RJ e tirava a hora do almoço pra tentar compensar a aporrinhação do dia a dia. Almoço é modo de falar, porque graças ao nosso hobby cachaceiro, lanchávamos muitas vezes para poder vender ou guardar os tickets-refeição para os porres dos fins de semana ou qualquer outro evento etílico de ocasião. Então, não podíamos ver uma daquelas promoções de “Refresco + Salgado = 1 Real” que parávamos logo pra dar uma olhada no veneno em forma de quitute.
Nessa rota suicida derivada dos tempos da pindaíba, nós encontramos várias massarocas não identificadas, e mesmo assim não dávamos trégua, pois macho que é macho come mermo!! Quando queríamos “comer bem”, íamos ao "Árabe" (Travessa dos Poetas) e enchíamos a cara de quibe e chopp. Era certo voltar pro trabalho meio doido e arrotando cebola com molho de alho.
Numa dessas empreitadas, resolvemos procurar um outro fornecedor de drogas, pois não agüentávamos mais comer os salgados quase crús do “Itahy Lanches”. Eu pedia uma esfirra e parecia que tava comendo uma bóia de braço. Meu ébrio colega cometia uma mistura de suruba com as raízes e canibalismo antropofágico ao comer dois italianos de uma vez só. Eram cenas muito pesadas, e mais pesadas ainda ficavam quando batia o refresco de água suja por cima disso tudo. Rodamos muito pra encontrarmos um novo “Bate e Entope” em promoção. O “Ilha dos Sucos Lanches”, onde comíamos e difamávamos, tinha fechado. O filho da puta fechou e não avisou a ninguém! Até hoje eu tenho uns 15 contos em vale daquela porra!! O salgado de lá era ruim, mas era melhor do que os outros. Achamos que depois dessa indigesta surpresa não tínhamos mais pra onde correr.
Sem tempo para continuar a expedição, pressionados pela fome e desesperados com a idéia de voltar para o trabalho, tentamos lembrar qual seria a opção mais próxima. A “Pastelaria do Oriente” era logo ao lado (Rua México) , mas tínhamos feito a promessa de não nos envenenarmos mais lá. Mas como nenhum dos dois nunca teve palavra nenhuma, fomos pra lá mesmo.
Uma vez eu chamei a pastelaria de “Embaixada - Importadora Chinesa de mão-de-obra Clandestina”, pois a cada semana aparecia um china diferente por lá. Somente olhos apurados podem distinguir um chinês do outro. O que facilitava era que os mais antigos já sabiam falar “obligado” e os novos nem isso. Pedi então, em português bem claro, uma promoção:

- Caine, quexo, camalão ou flango, me perguntou o oriental!
- Frango com refresco de laranja, eu disse.
- Larancha?
- É..., “larancha”!!!

Enquanto um dos novos chineses providenciava o complexo pedido, eu observava mais uma vez sem acreditar ser possível um lugar daquele continuar aberto e bem no centro do centro do Rio de Janeiro. O chão era imundo. Os copos ficavam enfileirados em cima de uma pia prontos para receberem o caldo de cana. Ao retirar a jarra cheia do caldo que era jorrado nos copos (a máquina do caldo ficava pingando e molhando o chão sem parar), se espalhava e se pisava naquele troço todo que logo virava uma gosma igual a um piche preto e grudento. Costumo dizer que tá pra nascer sujeito mais porco que chinês (não vamos generalizar, apenas alguns milhões). As camisas, que eram brancas, pareciam uma mistura de pano de chão com colete à prova de balas, pois eram emporcalhadas e duras de tanto que eles limpavam as mãos sujas com aquelas unhas grandes e pretas que mais pareciam ter saído de um bueiro. Nem todos os salgados eram ruins. Eram até bonitos, mas o lugar poderia ser interditado à primeira vista. Se ali no balcão já era assim, imagina lá dentro! Também, o que esperar de uns caras que comem cachorro (nem todos, não há tanto cachorro assim...)?!
Daí chega o meu lanche, se é que se pode chamar aquilo assim. O refresco estava cheio de gelo. Eu, gripado, pedi para que o china tirasse o gelo pra mim. Ele demorou, mas acabou entendendo. Foi pra trás de uma espécie de divisória e ao trazer o meu copo, percebi algo estranho. Numa mão ele trazia o refresco e a outra ele enxugava na camisa preta de imundice. Olhei para aquela mão pingando com os gominhos da laranja pendurados e sinceramente não acreditei. O filho de uma puta rasgadeira tinha enfiando aquela mão de sarjeta no meu copo?! Até achei que meu sequelado colega iria falar alguma coisa na hora, mas ele só comentou comigo dias depois sobre um certo "flash-back" sobre o chiqueiro shogun. Então pensei: “Posso fazer um confusão ducacete ou beber esse troço ruim e fingir que não vi nada. Depois, se não morrer, nunca mais piso nessa porra”. Então bebi. Bebi até porque quem come num lugar desses tem mais é que se fuder todo mermo! Se o salgado que ninguém viu sendo feito, nem onde, nem por quem, se comia aos montes, não seria aquela água de vala que iria me matar. Não daquela vez!
Como desconfio até hoje, essa pastelada toda deve ser apenas uma fachada para encobrir a imigração ilegal dessa chinesada coreana de Taiwan. E a Vigilância Sanitária é sócia da parada. Tá na cara que qualquer fiscal fecharia o estabelecimento só de olhar! E como negócio, eles não tinham como se manter. Era muito fácil dar calote no China. Se eu, que não sou de fazer essas coisas, comia 2 e só pagava 1, imagina o rombo que a “malandragem” deixava de prejuízo!
Nunca mais fui lá. Nem como mais essas porcarias. Meu triturador de lixo quebrou! E minha “fase avestruz” também acabou. O pior é que continuo fã dos salgados em geral e tô fazendo um sacrifício danado ficando longe deles. Mais é só lembrar dos chineses que a vontade passa na hora!
O curioso é que eu gosto muito da comida chinesa. Gosto de comer a chinesa, mas não sou adepto do croquete chinês. Por isso, estou pensando seriamente em propôr uma lei que proíba a concessão de alvará para “Pastelarias dos Chinas”. Será melhor para todos que ao invés de pastelarias os chinas abram somente lavanderias, pois só assim eles serão obrigados a lavar alguma coisa.