Andamos pra cacete o dia inteiro. Acho que decorei cada rua da cidade de tanto bater perna e seguir a mulherada de destino incerto. O lugar me surpreendeu, legal mesmo. Ao lado do nosso hotel, na mesma calçada tinha um shopping que é um dos mais bonitos e diferentes que já vi. Foram horas por lá, mesmo odiando esses templos do consumo. O gigantesco teto em vidro/acrílico, o design como um todo, uma arquitetura maneiríssima valorizada pelas lojas de grifes famosas e um indo e vindo lindo de morrer. E nós dois secando aquele movimento feito lobos tarados preparando o bote nas ovelhinhas. Não demorou muito pra segurança ser acionada e fazermos uma retirada estratégica...
Chegou a noite e com ela uma sede danada. Sexta-feira e estávamos animados, doidos pra tocarmos o terror por aquelas bandas. Fomos em direção ao barzinho do blues pra checarmos o que estava rolando. A banda dessa vez não tinha muita graça e o casal de meninas não estava lá. Nenhum motivo pra ficar então. Continuamos peregrinando de bar em bar com aquele instinto pegador no olhar. Foi quando passamos em frente ao
‘Revolution’ (rede grande de bares bem transados, seletos, especializados em drinks a base de vodka). Vários seguranças na beca e um pessoal bem bonito lá dentro. Vimos que o nível do lugar era acima da média, que estava rolando uma festança numa área VIP e que esse negócio de vodka e mulher é uma combinação que dá um caldo danado. Não tivemos dúvidas. O risco de sermos barrados era grande, mas fingindo normalidade, entramos. Canja certa!
Entrei e fiquei tentando entender o cardápio de cachaça que tinha trocentos drinks que eu nunca tinha visto ao mesmo tempo que fazia o reconhecimento do terreno. Pedimos logo uma jarra de não sei lá o quê pra ajudar no ‘approach’. Nisso, eu e o Zero Dois naquela atividade trabalhando pela inserção na cultura local e começando a estranhar a falta de atitude por parte da fauna bristoniana. Mulher sobrando, várias beldades, e neguinho nem aí, nada acontecia. Mesas lotadas lá fora e maluco se vomitando nas pernas. Ficamos rodando o bar, mudando o leque de locações, mas era tudo mais do mesmo. Nada acontecia, mulherada não dando a menor confiança, o povo só querendo saber de manguaçar, ninguém pegava ninguém, um zero a zero triste de se ver. Foi quando decidimos pelo
wasari antes que tomássemos um
ippon.
Revoltados com o Revolution, atravessamos a rua na esperança de tirarmos o zero do placar. O
‘The Slug and Lettuce’ (outra rede grande de bares estilosos) logo em frente estava fechando as portas, mas tinha uma entrada lateral com um certo movimento e partimos pra dentro. Subimos as escadas e a coisa parecia uma festa particular, mas estava animada, ninguém perguntou nada e antes mesmo disso eu já tava no balcão pedindo umas. Eu e Zero Dois tomávamos outras vodkas olhando aquela mulherada um tanto diferente (não tinha uma loira! Raríssimo!!), uns malucos dançando estranho ao som de uma música ruim de doer ouvido de defunto. Se eu não estivesse num estágio manguaceiro avançado teria percebido do que se tratava antes, logo assim que chegamos, mas cachaça é aquilo...
Era uma festa totalmente indiana, aniversário de algo ou alguém, reunindo uma galera mais light do Islã e outras tantas religiões, uma turma hindu jovem e alegre, mas fechada em si, sem muitos interesses no que se refere a comunhão do espírito através da penetração da carne. Cheguei numa menina linda com olhos que me lembraram doces jabuticabas, cabelos negros e escorridos, mas que na minha terceira pergunta cheia de dentes saiu correndo rumo à Meca. Logo depois percebi que olhares ferozes e os até então desconhecidos ‘Cantos de Alá’ (aláoqueaquelefiladaputatáfazendo!) se dirigiam ao pobre amigo que vos escreve voodoomizando-o. Vi que era hora de tirar nosso time de campo se não quisesse encerrar a carreira por ali mesmo. E a essa altura o estômago já rugia feroz e eu só conseguia pensar em acordar a tempo do café da manhã seguinte. “A saideira, por favor!” pra arrematar e lá fomos nós embora impressionados com tanta gente brocha junta numa noite só.