foto furuta

domingo, 30 de março de 2008

Enfim, o banho Tcheco!


Acho que já escrevi que nessa terra as coisas acontecem muito rápido, que a dinâmica da parada é forte, e como diria o ‘Velho Celso’, “o ritmo do som é pesado”. É praticamente impossível postar os “Fatos & Fotos” como gostaria, tentar manter a família e amigos informados sobre o que rola e atropela, ainda mais sendo sabotado pela minha memória de orangotango acéfalo everytime.
Fui ao médico recentemente tentar tratar da minha esclerose galopante ansioso por uma palavra de esperança, um diagnóstico positivo na reversão do meu processo sem recursos. Palavra monossílaba de preferência já que tá feia a coisa pra lembrar qualquer bagulho, of course. Cheguei no hospital, preenchi os formulários e fui encaminhado a sala de espera. E bota espera nisso! Como não era nenhuma emergência me deixaram lá com uma pilha de revistas e de frente pra televisão um bom tempo, talvez esperando que eu esquecesse o que tinha ido fazer lá e fosse embora. A sorte é que caí no sono e só acordei quando alguém berrou algo parecido com o meu nome num sotaque estranho.
Daí fui encaminhado a um médico figura, um indiano de nome impronunciável (não lembro mas sei que não entendi nada) com umas 6 consoantes em 8 letras, mas que demonstrou alguma atenção ao meu problema depois de ouvir três respostas diferentes pra mesma pergunta.
Depois de um pequeno questionário e alguns testes de memória (ainda bem que não valia dinheiro) ele ficou convencido de que o meu quadro clínico-psicoescalafobético merecia maiores cuidados. Me perguntou então se eu comi peixe quando era criança. Respondi: “muito, quase todos pescados na Lagoa de Araruama ou na Baía de Guanabara”. Mesmo desconhecendo os lugares o cara demonstrou uma certa preocupação quando tentei descrever em que pé anda a coisa por lá. Fucked!
Ele disse então haver drogas pra esse tipo de enfermidade, algumas ainda em teste (conheço gente que já fez uma grana servindo de cobaia por aqui) e que podeira prescrever algumas se eu quisesse. Respondi que não, que droga por droga já basta meu presidente, que a cerveja me completa, e que eu tava lá pra tentar resolver e não pra complicar.
Foi quando começamos a jogar papo fora falando sobre o Brasil, futebol, carnaval e me bateu uma sede 'disgramada', uma vontade de tomar uma gelada com camarão frito na beira da praia, de curtir a paisagem indo e vindo miseráveis. Ele percebeu os sintomas/baba/espasmos de bate-pronto e me receitou uma passagem pra Terrinha por um mês pra recarregar as forças e descarregar a pressão. Expliquei pro Doctor que isso estava fora de cogitação no momento. “O problema é que eu me conheço. Se eu for de visita, fico por lá!”, disse eu ao adepto dos Filhos de Gandhi.
Contei pra ele que tenho um projeto sócio-cultural-etiliconográfico sendo realizado por aqui e que só largo a barra da saia da Beth depois de cumprí-lo. Comprei equipamento pra filmar, fotografar, gravar, anotar, registrar toda a experiência vivida em terras gringas pra isso. Meu problema é que sempre esqueço tudo em casa.
Foi daí que o discípulo de Shiva teve uma idéia que de tão brilhante iluminou todo o recinto perfumado com incenso de éter:
- No seu caso o mais recomendável seria uma enfermeira, pra além dos cuidados clínicos, também poder carregar toda essa parafernália e garantir a salvação de algum resquício do seu passado recente.
- O quê!? Enfermeira!? – exclamei eu com ênfase na question mark. Refleti por alguns segundos e continuei:
- A idéia até que não é má, mas há possibilidade dessa enfermeira ser sueca, loura (quase um pleonasmo!), com fluência na língua, especialista em massagem tântrica e terceiros socorros depois da quinta? Afinal, cuidado nunca é demais...
- Acho que não temos suecas em nosso quadro no momento. Algum problema se for tcheca? – retrucou o adorador de vacas.
- Nenhum, caro Doutor, sou um cara multiculturalizado, easy going total!
- Então preencha essa solicitação que eu encaminharei ao Setor de Neurologia e Outras Demências e em breve faremos contato – finalizou o dogged garranchando o papel.
Perfect! Saí de lá rindo à toa sem lembrar direito o por quê. Nunca pensei que ficaria feliz por seguir recomendações médicas e mergulhar profundamente de cabeça num tratamento. That’s it!!

Confissões de uma Câmera Virgem


Se quiserem conferir outras fotos na cidade do time que perdeu o Mundial de Interclubes de 1981 pro MENGÃO, é só clicar aqui: http://www.youtube.com/watch?v=l7mUx6zEssU

Back to the normal Life


Volta pra realidade, pra 'tranquilidade corrida' do meu bairro querido..., e daí?! Depois dessa saga quem é que tem problema com alguma coisa? A ida pra Liverpool serviu como uma catarse, um pagamento de todas as ‘dívidas’ que eu tinha com tudo e com todos. Principalmente comigo. Sempre sofri um bocado me arrependendo de um erro ou outro em diferentes graus numa escala difícil de zerar, mas sem nem poder imaginar como, aconteceu algo que me fez sentir tão orgulhoso, tão bem, que quitou tudo com a porra toda. Prêmio total. Tudo que eu fiz até então me levou até lá, inclusive os erros, os vacilos que me torturavam até hoje. Zerei com tudo! Acabou, xará!! Nada é impossível e isso só serviu pra me provar o que tô cansado de de saber, de ouvir, de ler por aí. Fui!!
Quando saí da ‘canja’ no Cavern a primeira coisa que fiz foi ligar pro meu irmão. Foi difícil saber quem estava mais eufórico pelo feito! O cara esteve lá, visualizou a parada toda!! Chegamos no hostel pra nosso último pernoite e tinha uma turma numa manguáça pesada fazendo uma zoeira da boa. Quando neguinho perguntou de onde a gente tava vindo e o Caio contou o que tinha rolado, os caras bolaram. Na mesma hora apareceu um violão e o show continuou por lá até altas horas. ‘Rááá de Luz’!!
Dia seguinte de manhã pegamos as tralhas e partimos. A viagem foi desconfortável com direito a mais uma hora por conta de um engarrafamento na estrada. So what?! Depois dessa viagem eu tô rindo de qualquer desgraça e com as baterias entupidas de ‘good vibrations’ até o teto! Energia da boa pra dar e vender, mesmo que essas coisas não se vendam! Prova disso é que foi só eu pisar em Londres que a imobiliária ligou dando o ok do tão sonhado apartamento dizendo que era só passar lá pra assinar o contrato e pegar as chaves. Melhor impossível! Mais do que nunca a certeza de que “everything is gonna be all right...!”. Já é!!

sábado, 29 de março de 2008

Liverpool – A Redenção (parte II)


De ‘balde’ na mão, cheguei pro Caio e falei que ia lá. “Vai lá aonde, rapá?”, perguntou o jauense bebum. “Vou lá tocar nessa porra!”, disse já pedindo pra ele segurar a minha cerva. O cara num levou fé, até porque acho que ele nem sabia que eu espancava a viola de vez em quando. Passei o copo, tirei o casaco, respirei fundo e pedi só uma coisa antes de passar no meio do pessoal rumo ao palco. “Registra essa porra, senão ninguém vai acreditar nessa estória!”.
Parti cheio de atitude em direção ao cara que estava no intervalo entre uma música e outra. Cheguei na beira do palco, bati na caixa de retorno como se estivesse pedindo permissão pra adentrar uma porta, e depois de pedidos de licença e desculpas cheguei pro tal músico e disse: “Olha só, eu sou brasileiro, vim do Brasil só pra conhecer o Cavern e queria te pedir pra tocar uma música. Esse é um momento histórico pra mim. PelamordeDeus!!!”. O cara riu, me chamou pra perto, disse que tava ok e perguntou quando eu queria tocar, se no meio do show, no final ou ‘agora’. Respondi que quando ele quisesse, quando fosse melhor pra ele, claro. Daí o cara chegou e mandou: “então toca agora!”. Fudeu! Pára tudo!! Putaquiupariu com todas as letras do mundo, disse eu pra mim mesmo sem acreditar em nada do que estava acontecendo! O cara (acho que o nome era Ryan) perguntou meu nome, me apresentou pra platéia e me passou a viola. Gelei da cabeça aos pés, não sabia nem mais pra que lado botar o violão, se eu era canhoto ou destro! Mesmo sem acreditar em santo disse por dentro “valei-me minha Nossa Senhora”! Daí tentei me apresentar dizendo que estava muito feliz por estar ali, que estava realizando um sonho, que aquela música era pro meu irmão que já tinha ido lá antes de mim e pro meu pai que me ‘apresentou’ aos Beatles e sempre quis ir. Bem, eu tentei dizer isso, mas estava tão nervoso que tenho quase certeza de que ninguém entendeu nada do que eu disse. Não lembro de nada que tenha me deixado tão nervoso quanto isso. Palco ou situação nenhuma havia me feito tremer nas bases daquele jeito. Literalmente!!
Subi lá pra cantar ‘Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band’ (a única que eu achei que conseguiria lembrar). Comecei a bater nas cordas do violão e, além do cagaço pela minha versão ser completamente diferente do original, uma ‘heresia’ naquela ‘casa sagrada’, a letra da música não vinha na cabeça de jeito nenhum. Nervoso é pouco! Eu já cansei de tocar isso pros quatro ventos, mas até as notas pareciam ter me abandonado...
Pra piorar, perto do palco tinha uma coroada que não mexia um músculo da cara, talvez alguns que já viram ‘os caras’ ao vivo e tudo. Fiquei apavorado. Olhei pro Caio e pra Su lá trás procurando uma cara familiar no meio da platéia pra mudar o foco e me concentrar no que tava tentando fazer. A cara de incrédulos dos dois não ajudava muito, mas foi o suficiente pra que letra e algumas notas ‘chegassem’. Comecei a cantar e suar que nem cão danado. A perna onde apoiava o violão não parava de tremer e eu estava pensando em tudo, menos na música. Tinha uma turma animada na parte de trás da platéia que me ajudou muito. Olhei pra eles e tinha uns cantando, dançando, bebendo (não necessariamente nessa ordem, mas valeu), enfim, eu não estava ‘tão errado’ assim. Ou eles é que estavam mais doidos do que eu. Manguáças à parte, sentei a porrada na viola do cara, berrei pra cacete, mas antes da metade da música já tava implorando pra aquilo acabar, pra aquele mal de Parkinson repentino largar de mim. Do meio pro fim a coisa melhorou, toquei e cantei com gosto graças ao Caio que a essa altura estava do lado do palco tirando fotos e da galera na ‘cozinha’ da platéia que parecia estar se amarrando. Terminei de tocar e o tal ‘Ryan’ chegou pra mim batendo palma (a platéia também! Puuuuuu...!), elogiando, pedindo pra tocar outra e tudo! “Ai meu Deus”, disse eu em código treme-treme. Agradeci muito e disse que não tinha condições, que tava nervoso pra cacete, quase me borrando todo. O cara se amarrou à vera, chegou no microfone e pediu palmas pro ‘Roberto do Brazil’. Foi aí que o ‘Mar Vermelho se abriu’, que o inacreditável aconteceu. Desci do palco e aquela coroada sizuda começou a se levantar, a me cumprimentar com apertos de mão e tapas nas costas dizendo “muito bom, muito bom...”, formando um corredor no meio da galera enquanto eu passava com todos fazendo o mesmo. Indescritívelmente fora de série! O que senti foi mais ainda! A turma da ‘retaguarda’ gostou muito mais do que eu conseguia ver durante a música, começaram a puxar papo, pagar cerveja, enfim, êxtase total! Vinte minutos depois ‘Ryan’ me chamou pro palco pra cantar com ele e assim foram mais num sei quantas. Dessa vez todo bobo, me achando ‘o cara’ (fora o manguaçal nas idéias!), toquei, cantei sem uma gota de suor, sem um béri-béri sequer! Tem muito mais estória, pois ele estava só abrindo o show pra banda que fecharia a noite. Preciso dizer que subi pra cantar com a banda? Depois de tocar sozinho no Cavern, mermão..., tocar com banda é mole!! Mandamos um ‘Roadhouse Blues’ dos Doors no melhor estilo (os caras tocavam pra cacete!) e me despendi da ‘Meca do Rock n’ Roll’ da forma mais incrível e inimaginável possível!

Liverpool – A Redenção (parte I)


Matada a sede que nos matava, partimos pro final da empreitada. Ainda faltavam algumas fotos em Chinatown (o portal do bairro chinês dá de dez no de Londres) que mesmo com o comércio fechado foi legal. De lá fomos pra Catedral de Liverpool que impressiona tanto por dentro como por fora. Logo em frente fica o colégio onde Paul McCartney estudou e onde ele e George Harrison se conheceram. Terminado o roteiro beatle-turístico partimos pra prometida gelada com tom de despedida no Cavern (nunca me despedi tanto na vida como nesse dia). Chegamos lá com aquela sensação de dever cumprido e felizes pelo sucesso da viagem. Mal podia imaginar que o melhor estava guardado pro final.
O bar não estava lotado como no dia anterior, mas tinha uma galera boa tomando umas e curtindo um som levado por um cara que mandava uns clássicos do rock no velho estilo ‘banquinho e violão’. Claro que dentre dez clássicos oito eram The Beatles. Mas em pleno Cavern Club você queria o quê?!
De início foi aquilo. Curtição, cerveja na mão, retrospecto do dia incrível e de toda a viagem, e uma conferida nas centenas de fotos na máquina de cada um. Depois de algumas pints, o cenário, a percepção de onde eu estava, fazendo o quê, começou a mudar (por quê será...?). Comecei a prestar atenção no cara tocando, na platéia cantando, aplaudindo, e daí me veio algo que nem lembro a última vez em que senti um troço parecido, uma viagem multiplicada pela cambroinha que chegava, a ficha caindo de onde era aquilo e que havia alguém ali no palco fazendo o que eu mais gostaria de fazer na vida, tocando no Cavern sozinho com sua ‘acoustic guitar’. Me veio um impulso incontrolável, uma vontade de ir lá e fazer o mesmo, algo impossível, de sonho, coisa que eu levaria pro resto da vida, digno de se contar pros netos, pra todo mundo!
De início tentei me convencer em desistir da idéia. Pensei: “tá doido? Vai pegar outra cerveja e fica na tua, xará!”. Assim fiz. Só serviu pra piorar porque depois de umas a gente perde mesmo a noção do ridículo e outras mais. Cantar em inglês na terra da língua é sempre complicado pra mim. Mas fazer isso ali, tentar cantar na casa dos ‘caras’, qualquer música deles que seja seria um risco enorme, quase um sacrilégio. Dei um ‘gólão’e voltei pro bar pra pegar outra.
Não me lembro quantas depois, me veio aquela voz dizendo: “o que você tem a perder, mermão? Você já está aqui, porra! Lembra de onde você veio e de quanta estrada já rolou desde então! Você tem que tentar pelo menos! Se tu chegar lá, pedir pra tocar e o cara disser ‘não’, pelo menos você tentou. O que não rola é o arrependimento futuro e certo de ter tido a chance e não ter nem tentado. Já pensou em você com 50, 60 anos se lembrando que esteve onde esteve e nem tentou?! (seu merda!! Ahahaha...). Arrependimento pro resto da vida, malandro!”. Verdade pura e absoluta. E eu já havia estourado minha cota de arrependimentos fazia tempo. ‘No more’, chega, tava bom! Eu não seria capaz de conviver com mais nenhum dos grandes, muito menos com um desses!!
(continua...)

It’s always the same in all fucking places…


Todos nós com câmeras de útlima geração, da melhor qualidade, e se perguntando a todo momento: “e esse botão aqui? Como é que isso funciona? Pra quê é que serve essa porra?!”. Como diria Ed, o Motta...: “Manuel..., foi pro céu..., pá, pulé, pilom, blum...”!!

“Hoje eu fiz, amanhã vocês fazem”


Se tivéssemos rezado pedindo uma coisa dessas acho que jamais aconteceria. O cara estava a caminho de um almoço em família em outra cidade a vários quilômetros dali e estava dispensando seu tempo com uns perdidos vindos do outro lado do Atlântico. Surreal.
Depois de contar como foi seus tempos de moleque por ali, sobre quando meninos estudavam numa parte da escola e meninas na outra, etc., ele nos deixou no ponto de ônibus e se despediu sob dezenas de agradecimentos dos três. O ponto ficava numa área bem residencial mas quase deserta. Todo mundo trancado em casa. Também, domingo e frio daquele jeito, sair pra quê?
Ficamos esperando o cata-corno por uma meia hora e nada. Estávamos de saco cheio e preocupados com a hora que passava. Afinal, iríamos embora cedo na manhã do dia seguinte e havíamos nos prometido várias saideiras no Cavern. Já batia aquela aporrinhação e cansaço quando parou um carro na nossa frente. Ninguém acreditou naquilo. O ‘Anjo Ian’ voltou!! Perplexos, perguntamos o que tinha acontecido, o que fazia ali de volta e ele respondeu: “voltei pra fazer o que devia ter feito há meia hora atrás”. Não gosto de fazer as coisas pela metade. Entrem no carro que eu vou deixar vocês no centro”. Quase chorei, sem sacanagem! A gente se olhava sem acreditar naquilo e no gesto do nobre senhor que durante o caminho disse que não precisavamos agradecer tanto, só fazer o mesmo por alguém um dia. Achei aquilo muito bonito, gesto de solidariedade e boa vontade do mundo, parárá..., mas não podia dizer pra ele que no Brasil não rola, que lá é que infelizmente não seria. Tô mentindo?!
O ‘anjo que caiu do céu’ propôs nos deixar no hostel ou onde quer que quisessemos. Eu queria ter uma lembrança da terrinha pra poder presentear o cara, ou poder mandar um postal lindão daqueles pra ele, mas o cara não queria nada, só mesmo completar aquela ‘missão’ e sumir do mapa, virar memória. Quando falamos sobre a ‘despedida do Cavern’ ele logo sugeriu nos deixar lá. Aí já era demais, porra! Olhei pros amigos no banco de trás e disse que tava bom demais, que não precisava ele pegar aquele trânsito todo do centro. Concordamos na hora. Antes que ele insistisse eu disse: “ ‘Seu’ Ian, o senhor pode parar aqui mesmo que pra gente tá perfeito!”. Perfeito porque eu já conhecia aquela rua e sabia que tinha um pub logo ali. O cara parou, apertou a mão de todos, desejou boa sorte, nós boa viagem, e foi-se. Entramos no pub, pedimos uma rodada, brindamos em nome do nosso ‘anjo da guarda’ e agradecemos a Deus pelo presentão de domingo, pela aula de tudo. Piegas? Pode até ser. Mas tá guardado. Valeu.

Menlove Avenue


O cara que compôs ‘Imagine’ só podia ter cresciso numa avenida com esse nome. Ele morou nessa casa dos 5 aos 18 anos. Isso quer dizer que esse é um dos lugares onde os Beatles ‘nasceram’ e dali partiram pro mundo. Legal pra cacete. E os moradores atuais da casa foram bastante simpáticos. Estavámos bloqueando o portão tirando as fotos de praxe quando um deles passou pedindo licença e ao pedirmos desculpas trocamos algumas palavras sobre como deve ser chato morar num lugar onde ‘volta e sempre’tem gente na porta. O cara disse que já estava acostumado, que nem esquentava com isso. E essa casa é uma das que você pode visitar agendando antes. Cool!
A essa altura eu queria perguntar o sobrenome, o endereço do nosso bom samaritano, mas não se pergunta esse tipo de coisa a ninguém que você não conheçe ainda mais se esse alguém for inglês. Mais uma despedida mais gratos do que num sei o quê e ‘Lorde Ian’ nos surpreendeu novamente oferecendo uma carona até o ponto do ônibus que nos levaria de volta ao centro da cidade. No percurso, discreto que só ele, comentou que tinha estudado no mesmo colégio que John Lennon, na mesma época, mas em turmas diferentes por ser mais velho. Ao contrário do contator de estórias do Hostel, disse ter conhecido o beatle, mas que eram de panelas distintas e que fora os tempos de estudante, não teve o menor contato próximo com o cara. Viu alguns shows e só. Começou então a falar sobre a rígida e exigente educação dos seus tempos e nos perguntou se gostaríamos de conhecer o tal ‘instituto’. Perplexos com mais essa, aceitamos de bate-pronto dizendo que não precisava se dar ao trabalho, que já tinha feito muito, essas coisas. E lá fomos nós.

“Nothing is real, and nothing to get hung about… Strawberry Fields Forever”


É isso aí o máximo que se pode ver de Strawberry Field (sem ‘s’no final mesmo), pois é uma propriedade privada sem direito a visitas. Existem casas onde moraram pessoas famosas, ilustres, onde a visitação com agendamento é permitida mesmo com alguém morando atualmente no local. Legal, mas não se aplica a essa que na verdade é um grande jardim, pomar, onde John Lennon e outros costumavam pular os muros pra roubar algumas frutas, levar um ‘pessoalzinho’ ou simplesmente fumar um.
Mais uma etapa da missão cumprida, agradecemos até não poder mais ao gentil senhor que além de nos salvar o dia ainda tirou uma das poucas fotos de nós três juntos. Na hora da despedida ele perguntou pra onde iríamos. Respondemos que não havia lugar certo pra ir senão algum outro importante na vida/música de algum dos Beatles, mas que sem ‘Gps’ talvez voltássemos pra cidade. Foi aí que ele nos falou que a rua onde morou ‘o John’ era perto dali e que poderia nos levar lá. Se a gente não sabia como agradecer ao cara antes, a partir de então ficou ainda mais difícil.

If you don’t believe in Angels...

“Anda-lhe, anda-lhe, anda-lhe”, como diria Don Quixote ao fiel Sancho, dissemos uns ao outros ao longo da jornada. A certa altura, completamente perdidos e depois de procurar informação até numa Mesquita, perto de pedir arrego e mandar Strawberry Fields pros quintos, encontramos um casal que sob risos discretos (leia-se ‘vocês tão fudidos!’) nos direcionou pra mais meia hora de caminhada ladeira acima. Caio olhou pra mim, disse que gostava dos Beatles mas que nem tanto assim, e que se eu não estivesse ali falando aquela quantidade de besteiras e com aquela disposição toda não daria mais nem um passo. Foi quando avistamos um caixa eletrônico, uma loja de conveniências, enfim, um pequeno sinal de vida no árduo caminho. Iamos abordar um cidadão, mas ele nos olhou com uma cara de medo que nos fez desistir antes que ele gritasse alguma coisa. Era só o que nos faltava. Eu, que já tinha mijado na lixeira de uma velhinha dois quarteirões antes, não seria mais considerado réu primário por essas bandas. Olhamos pro lado e vimos um senhor indo em direção ao carro estacionado e lá foi o jauense pedir socorro ao bom velhinho. Bom não, ótimo! A ‘alma caridosa’ começou a nos explicar como chegar lá (loooonge...) e depois de alguns segundos nos ofereceu uma carona pois nossa cara de perdidos denunciava o quanto estávamos entendendo aonde iríamos parar.
Entramos no carrão do coroa que com toda aquela discrição inglesa (o cara nasceu na Irlanda, mas cresceu na área) foi simpático e atencioso toda vida, conversando e trocando idéia durante o caminho. ‘Ian’ era o nome do cara. Foi engraçado porque ele fez a mesma pergunta que o casal alguns quilômetros antes. “O que vocês vão fazer lá? Não tem nada pra fazer lá!”. Dizer que éramos beatlemaníacos doentes e que tínhamos vindo do Brasil só pra isso era a única resposta plausível mesmo que nada razoável. Entramos na estreita rua onde fica o famoso portão de Strawberry Field, e assim como Penny Lane, nada que indicasse ou fizesse menção ao ‘significado’ do local pra ‘turistas’ ou curiosos como nós. Pelo menos chegamos. E em ótima companhia.

“Penny Lane is in my ears and in my eyes…”


O sistema de transporte (leia-se ‘buzão’) em Liverpool é muito doido, totalmente diferente de Londres. Não me perguntem como funciona porque nem tentei descobrir de tão complicado que é e eu num tava lá pra pensar.
Chegar na famosa rua não foi difícil, só demorou 10 vezes mais do que o ‘Forrest Gump’ do Embassie Hostel havia dito. Ele jurou de pé junto que era só ‘a uns 10 minutos’ andando. A gente pegou o ônibus depois de andar os tais 10 mins. sem sinal de nada. Já dentro do buzú levamos mais uns 15!! Ainda estava xingando o cara quando avistamos o trevo em que fica a rua. O cara era o maior caô, mas o guia que ele emprestou era muito bom. Tinha uma foto de um bar/restaurante onde os Beatles tocavam ainda moleques e antes do Cavern que era o ponto de encontro da molecada na época. Hoje o lugar está fechado com cara de abandonado e com alguns cartazes de ‘alguga-se’, ‘vende-se’, ‘pega quem quiser essa merda!’.
Penny Lane não tem nada demais. É uma rua comum e só vale mesmo pela música, pelo vídeo-clip e por você se ver ali, o que é muito maneiro. Mas moradores da localidade parecem não estar nem aí pra música. A igreja ao lado é bonita, mas como ela tem milhares por tudo quanto é canto da Inglaterra. Esse negócio de igreja merece outro post. São lindas, mas vai ter igreja assim pra lá!!Depois de várias fotos ao lado, embaixo, em cima e atrás da placa, decidimos que era hora de irmos rumo aos ‘Strawberry Fields...’ (outra música clássica pra quem não sabe). A lógica disse que seria tranquilo, pois quem mora por ali certamente saberia onde é desde que nasceu. Engano. Depois de perguntar pra terceira pessoa comecei a ficar preocupado. Encontramos um cara trabalhando na manutenção de um sinal de trânsito e foi nele mesmo que cheguei perguntando. O cara olhou pra mim e nem precisou abrir a boca pra eu perceber que a gente tava longe pra cacete. Daí ele deu uma série de coordenadas, ruas, placas, etc., e encerrou dizendo o que eu mais temia ouvir: não tinha ônibus dali pra lá. Olhei pro Caio e pra Suzana, dei aquela risadinha e disse: “agora que estamos aqui, simbora!”.

A queda do MIJÃO!


Mais uma madruga rindo das estórias do ‘Mr. Jamaica’, saideiras (albergue que se preze vende cerveja!) e um noite mal dormida depois (colchão de mola é uma merda!), acordamos com alguém gritando no nosso quarto de seis beliches “num é banheiro! Num é aqui, porra!!”. Quando olhei tinha um maluco abaixando as calças tentando sentar na cama embaixo da minha onde tinha uma suiça desesperada com a cena (imagina acordar com uma porra dessas?!) sem entender nada como todo mundo. Isso umas 7 e pouca da manhã depois de todo mundo enfiar o pé na jaca. Ninguém merece. Só mesmo o corno bebum que sem dar ouvidos ao aviso teve que ser empurrado antes que mijasse a menina toda. Quem não acordou com os berros acordou com o maluco se estatelando no chão de calça arriada até o pé e se mijando todo. Cena de ‘Transpotting’ total. Olho pra baixo e vejo o skinhead pelado sobre uma poça de mijo totalmente apagado. Meu primeiro reflexo foi pegar a câmera (foto pra prêmio), mas lembrei que nossas malas ficavam no quarto e temi por uma vingança futura. Maluco é maluco, sabe como é.
Desci pro café e falei com o funcionário do lugar o ocorrido e ele fez aquela cara de “como é que é?”. Eu disse que era isso mesmo e que pra entender melhor só mesmo vendo a cena. Se a gente fosse embora no mesmo dia não tenham dúvidas de que estaria tudo filmado/fotografado a essa hora. A gente não ia, mas o casal de amigos suiços não pensaram duas vezes em fechar a conta e partir.
Mas voltando ao nosso roteiro a ser cumprido..., já com as câmeras em punho (inaugurei a minha lá, por isso as fotos tão ‘meia boca’) e o guia emprestado pelo dono do hostel na mão fomos em direção à ‘Penny Lane’. Lembra da música? Não? Pena! Pena não..., azar o seu!

A Beatle-Caverna

Cheguei no destino tão sonhado tentando controlar a euforia e incredulidade que ao encontrar os tradicionais baldes de cerveja desse reino poderiam resultar na metamorfose em ‘Mr. Hyde Cachaceiro’ que normalmete ocorre com o amigo que vos escreve. E daí? Eu também tava lá pra isso!!
Na porta, além das fotos de lei, a boa notícia da entrada ‘de grátis’. Descendo os tantos lances de escada, cada um com o logo do bar com os registros dos que passaram por ali com uma caneta ‘pilot’ à mão (dei mole...) até o subterrâneo que explica o nome do lugar por si só. Descendo o Cavern a impressão que se tem é de que se está entrando num bunker e chegando lá a parada é realmene ‘cavernosa’.
Três ‘túneis’ interligados por três arcos nas duas paredes divisórias, sendo que o túnel do meio é onde fica o palco (bem maior do que o original onde os ‘caras’ se espremiam) e a turma do gargarejo, óbvio. Nos outros dois aos lados ficam a maioria das mesas e algumas máquinas de pôquer eletrônico. O bar na parte de trás à direita de quem chega é decorado por cartazes de várias artistas que tocaram lá na fase áurea e depois do fim da banda. Pense nos figurões do rock n’roll e terás uma idéia de quem já tocou por lá. E quem não quer fazê-lo onde os Beatles tocaram antes de conquistar o mundo? Fala sério! Ao lado do balcão tem uma tradicional cabine telefônica (sem telefone) que inspira os bebuns a se transformarem em Superman ou simplesmente tentar ‘chamar Raul’ sem DDD. Já falei que a cerveja em Liverpool é barata comparando com Londres? Pois é, no Cavern não é diferente. Mais em casa impossível!
E casa cheia com banda cover á rigor tocando todos os ‘clássicos beatlenianos’ como não podia deixar de ser. Deleite total! Fomos embora já no fim e depois de várias pensando em descansar um pouco a carcaça já que o dia seguinte seria de peregrinação total em busca de estórias pra contar na volta pro ‘home sweet home’.

A rua da chocadeira ‘BLITÔNICA’!


Se você não nunca ouviu falar no Cavern Club, não conhece quase nada de Beatles, ou simplesmente não gosta, vai ler outra coisa. Eu, fã por herança fieldiana e bom gosto, realizei um sonho de moleque até então pra lá de distante. Acompanhado pelo meu casal de amigos aventureiros saí do museu sedento por uma gelada e nada melhor do que fazer isso ‘onde tudo começou’. De mapa na mão fomos rumo ao ‘Clube mais famoso do Mundo’. Os mapas de lá são muito doidos. Ou eu, sei lá, pois tinha que virar de cabeça pra baixo (o mapa, por favor) pra tentar me localizar a cada quarteirão desbravado.
Depois de brincar de labirinto por alguns minutos, chegamos na ‘Mathew Street’, rua que abriga o ‘Cavern Club’, assim como outros tantos bares e lojas que vivem da história do quarteto. O curioso é que eu esperava que a cidade girasse de certa forma em torno disso, que a fama da banda fosse algo exaustivamente explorado. Mas não é, apesar da quantidade de gente que como eu que só vai lá por causa disso. É claro que há empresas de turismo, ônibus temático e o escambau que faz todo o roteiro Beatles, mas a coisa não é tão intensa como eu esperava. A cidade é grande, o comércio é fortíssimo, independe economicamente dos caras, enfim, a empolgação fica por conta dos fãs do mundo todo que vai lá por alguns dias, mas que na maioria ficam em hotéis baratos, tiram fotos, compram algumas bugingangas e volta pra casa.

“Vento, ventania, me leve pra qualquer canto do mundo”


Detalhes de nossas instalações e companheiros de quarto à parte (outro capítulo ‘prum futuro distante...’) o Hostel cumpria as necessidades básicas de sono e banho. Na manhã seguinte levantamos cedo pra percorrer o máximo possível da cidade e otimizar algum tempo livre a fim de conhecer os pubs locais. Frio, chuva fina chata pra porra, ventania de fazer guarda-chuva virar pipa, e lá fomos nós em direção ao lugar que ‘fez’ a cidade, base da economia e riqueza local, o porto de Liverpool. O Museu Marítimo, o Museu Internacional da Escravidão (um dos mais importantes do mundo) e o Museu dos Beatles ficam no complexo de prédios do ‘Albert Dock’. Depois de várias fotos e alguma História depois, partimos pro Museu dos ‘4 caras que chacoalharam o mundo’. Fotos na entrada pra registrar pra posteridade (lá dentro é proibido) e compra do ingresso pra mergulhar no universo beatlemaníaco. “Yeah, yeah, yeah...!!”.

terça-feira, 11 de março de 2008

Astrais não têm Stress!!


É covardia pedir aos meus maltratados neurônios pra lembrar de tanta coisa, ainda mais sem tempo pra colocar no ‘papel’ como sempre. Quem sabe um dia essas aventuras e outras estórias viram livro. Nem que seja um psicografado!!
Os detalhes um dia eu conto ‘ao vivo’ pra vocês, porque o resumo da coisa é mais ou menos esse: chegamos na cidade que me surpreendeu de cara pelo tamanho e pela mulherada com trajes mínimos num frio de –5 graus. Desde a Escócia (mulherada corajosa!) não via tantas pernas de fora e mamilos alcaguetes assim. Amei!!
Partimos pro Embassie Hostel, nosso ‘albergue’ por lá. Fomos recepcionados com chá e biscoitos pelo dono que fez questão de contar causos de sua juventude e de como conheceu os Beatles quando todos eram moleques. Um dos maiores baratos da viagem foi conhecer a figura da foto acima entre eu e o Caio num momento de ‘Rá’ total. Jay, um coroa jamaicano contador de estórias da melhor qualidade, dono de uma simpatia e carisma fora de séries, viajado pra cacete, ex-marido de uma brasileira (foi garimpeiro em Serra Pelada na década de 70) e parceiro de baforadas de Bob Marley. Nem preciso dizer que virei noite entre papos e risadas com o maluco, né não?!

"Morro acima e contra o Vento".


Aceito o convite pra ir pra casa da 'Pri' de imediato, o próximo passo foi achar alguém que pudesse me emprestar uma grana pra completar o depósito a fim de garantir o teto nosso de cada dia. Mas entre uma miséria e outra havia minha trip pra Meca do Rock n’ Roll. Partiu!!
Saí de manhã cedo rumo á Victoria Station de onde partiria o buzú pra Liverpool. Na pressa e com medo do trânsito em pleno rush fui direto pro metrô. Pior do que engarrafamento é ficar parado dentro de um estreito túnel num vagão lotado. Claro que o ‘pior’ daqui muitas vezes é bem melhor do que o ‘melhor’ por aí.
Piores à parte, eu tava atrasado. Era só o que me faltava, perder a viagem pra Liverpool pra completar a minha via-crucis. Saltei no desespero em South Kensington na esperança de trocar de linha e chegar em tempo. Tô eu subindo as escadas com o companheiro mochilão quando percebo uma multidão em sentido contrário. “Babou”, foi o que me veio na hora. Logo depois o auto-falante avisando que tava tudo parado, pane total, fudido. Mais ainda eu, que mesmo aos trancos e barrancos já tava dentro da porra do metrô e agora teria que esperar outro na certeza de ir em pé e espremido. Atrasado? A essa altura nem olhava mais o relógio pra não piorar o quadro assinado por Murphy.
Depois de uma eternidade cheguei na estação correndo feito um doido pra pegar o desconjurado do ônibus. Se fosse no Rio já teriam gritado ‘pega ladrão’ ou me confundido com um camelô fugindo do ‘Rapa’. A estação do buzú nao é a mesma do metrô/trem mas fica a menos de 10 minutos de caminhada de lá, só que com peso extra, em cima do laço, xingando tudo e todos, parecia não chegar nunca. Enfim, adentrei os corredores de onde partem os ‘Cata-Cornos Europeus’ procurando pelo casal brazuca e nada. E eu torcendo pra eles terem me passado o horário da passagem contando com nossa famosa pontualidade tupiniquim. Porra nenhuma! Olho pra garagem e ao ver uma fila no ‘check-in’ meu instinto azarão me disse na hora: “é lá!!”.
Fui o último a entrar no buzão. Um minuto a mais e já era. Poltrona achada, bagagem acomodada e aquela chapada estratégica para aliviar o stress e ajudar as 5hs de estrada passarem mais rápido.

domingo, 9 de março de 2008

Saudades...

Foi-se minha Julinha, a Julie, minha Tia Sandra e de mais outros tantos. Foi levando o sorriso mais cheio de dentes que já vi, a risada inconfundível e inesquecível, assim como os cabelos 1001 modelos e motivos de tantos apelidos, a alegria e o carinho com que sempre tratou a todos. Eu poderia escrever até a mão cair e não conseguiria fazer jús à minha querida Julinha, aos tantos momentos importantes e mais outros milhares em sua companhia, muito menos dar conta do que ela significa pra mim.
Lá se vão 18 anos desde que nos conhecemos. Nenhum dos dois seria capaz de fazer idéia da relação, da amizade, da cumplicidade, dos amor que se resultaria do nosso encontro. Eu, moleque, 17 anos de idade, olhava pro seu cabelinho então Channel balançando de tanto que ria das nossas palhaçadas no curso de teatro da então Festa & Cia. Lembro dela na meia porta da cozinha com o copo americano de cerveja na mão, um olho no palco e outro no panelão de cachorro-quente famoso entre a molecada e frequentadores da casa.
Todo pai/mãe de amigo ou adulto em meio comum vira tio/tia, mas lembro bem quando passei a considerar, a sentir a “Tia Sandra” dos seus ex-alunos, da galera do teatro, mais tia do que todos os outros. Essas lembranças trazem um suspiro profundo, uma sequência enorme de flash-backs impossível de se colocar em ordem ou tentar resumir.
Lembro de quando comecei a morar sozinho, 18 anos, vários perrengues, principalmente no quesito alimentação, já que o miojão reinava no meu lar. Não foi uma nem duas vezes que ela me chamou no canto com uma marmita em forma de pote de sorvete cheia de cachorro-quente ou outros quitutes que sobravam das festas que ela recepcionava na casa. Essas festas, trabalho na copa, portaria, segurança, cervejada com o “staff” e afins são outro capítulo. Meu pequeno apartamento não tinha nem uma sacadinha sequer pra chamar de varanda e por isso eu costumava dizer que a casa 107 era o meu quintal. Até porque não saia de lá!
Nessa época o nosso convívio era quase diário. Quase é jeito de falar porque quando não nos encontrávamos na casa era certo isso acontecer nas mesas de bar. Tanto era que a casa virou um. Esse é outro capítulo gigante. Complicado falar sobre tanta coisa, tentar resumir a fase mais intensa da minha vida, mesmo pincelando de leve as incontáveis coisas que vêm aos olhos quando penso em Julinha e nas vezes em que a encontrei, que estivemos juntos, ou em que me peguei pensando nela.
Lembro dela se preocupando comigo, falando pra eu tomar juízo, do seu morango ao leite em meus tempos de úlcera, do carinho quando eu estava triste e dos conselhos que sempre terminavam em xingamentos e risadas pra tudo quando era lado. Adorava xingar com ela! Engraçado demais porque ela ia se empolgando e começava a me repetir xingando, daí eu ia baixando o nível, e ela repetindo..., terminávamos às gargalhadas quase sempre chorando de tanto rir.
Me lembro quando ligava pra ela e ficávamos papeando, falando besteiras. Me chamava pra ir na sua casa dizendo que ia cozinhar isso, aquilo (quem provou sabe da mão fora de série da Julinha), que ia fritar os salgados motivos do meu vício, comprar cerveja..., e eu babando do outro lado da linha falando que ia, que já tava lá, mas volta e meia furava por causa de mulher enchendo o saco, ressacas gigantes, ou outros tipos de incapacidades momentâneas. Depois esbarrava com ela no meio da rua, me xingava um bocado puta da vida e depois da primeira palhaçada já caía na gargalhada marcando um chopp ou era dali mesmo direto pra uns.
Ah, chopp..., com Julinha foram galões. A gente se encontrava ou ela passava lá em casa de carro pra me pegar e “encher a palhaça”. Eu dizia que não precisava mas ela insistia dizendo que era pra evitar eu ir de moto porque ‘o problema é na volta’. Saía eu e minha ‘Tia Gatosa’, como ela mesmo dizia (gata + idosa! rsrsrs). Viramos muitas noitadas em vários botecos, bares e afins juntos sem nenhuma desculpa que não fosse rir. Muito engraçado ela rindo, se mexendo toda, a cabeça balançando o cabelinho, os olhos cheios d’água denunciando as gargalhadas...

Nossa cervejinha na praia! Outra dezena de capítulos. Quiosques em Charitas, Piratininga, casa em Itacoatiara, Búzios, era sempre a mesma estória: “Liga pra Robertinho!!”. E lá ia eu sabendo o que tava pra acontecer, que qualquer outro compromisso simplesmente já era e mesmo assim feliz da vida. Distante dos meus pais, dos meus irmãos, mas em família, mais em casa do que em qualquer outro lugar. Eu e minha Julinha, minha tia, minha amiga, meu saquinho de riso, minha companheira de copo, de desabafos..., e agora minha saudade.
Desde o dia em que soube de sua partida me pego pensando, lembrando, rindo, chorando, orando por ela, saudoso de tanta coisa mas ao mesmo tempo certo de que está no melhor lugar possível. Minha Julie é uma das melhores pessoas que conheci e daquelas raras de se encontar. Prendadíssima, talentosa, carinhosa. Gente boa toda vida! Estão aí os amigos, a mãe, os filhos, e os não sei quantos ‘sobrinhos’ que não me deixam mentir.
O último fim de semana em que estivemos juntos foi como de hábito. Praiana, ‘palhaça cheia’, pança ídem, diversão do início ao fim. Isso foi um pouco antes de eu vir pra Londres. E agora é isso, somado ao tanto que vivemos, que fica. Agradeço a Deus por tê-la colocado na minha vida e pelas tantas lembranças e carinho que me deixou. Ao rascunhar essas linhas me vi surpreso por me lembrar de tanto, pois cada palavra me trazia um velho fato novo. Simplesmente porque Julinha não ficou na cabeça, mas no coração. Seu nome está gravado no meu.

Inté Juuuuulie! E não deixe de olhar por mim porque você me conhece!! Rsrsrs...

Beijos com o amor de sempre,
Robertinho.