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terça-feira, 21 de agosto de 2007

Sessão 'Flash Back'! - Parte II


O SAPO HIGHLANDER

Quase todos sentem saudades da infância, em geral muito diferente da que vemos nos dias de hoje. Mas eu acredito ter motivos especiais pra isso. Lembro-me dos meus tempos de criança no balneário francês de San Pierre de La Village. Lugar de lindas paisagens e grande fartura. Farta de mar, farta de onda e farta do que fazer (ok, piada velha, mas lembra a dita cuja época também, né não?!). Mas graças a isso tive uma infância agitada, pois tinha que inventar minhas próprias diversões. Isso significa que passei mais da metade dessa fase maravilhosa “jurado” e fugindo das coças e castigos do Mr.Fields, sujeito admirado pelos seus eleitores, respeitado pelos seus adversários e temido pela molecada pelo seu esporro em voz grossa e patente reconhecida.
Numa de muitas aventuras nesse lugar paradisíaco, eu, Paulo Henrique e Esinho, os três mosquiteiros da Lagoa, sócios-atletas do fazer-o-que-não-presta, decidimos desbravar parte daquele enorme matagal que rodeava a Base Aeronaval da Marinha em busca de novas aventuras e motivos pra tomar porrada em casa. Isso exigia a fundação de um novo clube. Lembro-me agora de como era fácil quando criança fundar um clube. Era “Clube de Caçadores” disso, “Clube de Salvadores” daquilo, variava de acordo com a época. Quando passava a época do caju ou da pitanga, mudávamos o nome para “Clube dos Caçadores de Sirigúela”. Como um sócio de um dos nossos clubes tinha tomado um tiro de sal em uma das reuniões embaixo do pé de carambola do Seu Armindo, desistimos das aventuras com vista nos empréstimos hortifrutigranjeiros á prazo por um tempo.
Esinho, comprovadamente o mais louco de nós, sugeriu então que fundássemos o “Clube da Ciência” a fim de descobrirmos o que toda pessoa normal já sabia. A votação e fundação foram a caminho da farmácia onde seria providenciado o equipamento para a pesquisa. Um litro de álcool, três vidros de formol, algumas seringas e um Vick-Vaporup Nasal pra ver se dava onda.
“Pra quê é que vocês querem essa porra?”, perguntou o Luís da Farmácia no exercício de sua psicologia infantil. “É pra empalhar a bicharada”, respondemos. Frisson na cidade! As bichinhas locais ficaram em polvorosa e faziam fila para que lhes atochássemos serragem (que nada mais é do que pau em pó!) e para poderem brincar com os nossos “Lulús”. Assim as sócias do “Clube da Bisnaga Fresca” chamavam nossos pequenos membros mijatórios infanto-juvenis. Revoltados, decidimos que assim que tivéssemos paus de verdade, fundaríamos o “Clube dos Exterminadores de Roscas Frouxas”.
Bem, voltando à procura do saber cientifico..., pegamos então nossos apetrechos e partimos para o meio da macega. Passamos o dia inteiro caçando qualquer espécie de bicho sem sucesso algum. Parecia que tinham sentido o cheiro de nossas intenções molhadas em formol, pois não achamos nem formiga. Já no final da tarde, próximo às últimas casas da “Vila dos Sargentos”, encontramos o que iria inaugurar nossos estudos e que transformaríamos na vedete da Feira de Ciências daquele ano. Era um sapo-boi de quase dois palmos de tamanho, feio e gordo. Tudo bem que não existe sapo-boi bonito e magro, mas esse era a cara do Jabah de Hutt do filme “O Retorno do Jedi”.
Não pensamos duas vezes! Enchemos nossas seringas com aquele coquetel mortal e partimos pra cima do bicho!! Quando apontei aquela arma venenosa para o anfíbio-bovino ele deu um pulo pra frente e nós demos dois pra trás. Nos vimos num impasse. Quem iria injetar aquele troço num bicho pré-histórico que nem aquele? E se ele agarrasse o meu pé e quebrasse os meus dedos com aqueles braços marombados? E se ele mijasse em nossos olhos? Ninguém queria correr o risco (a essa altura o sapo já tinha virado um jacaré do papo amarelo!)! Tiramos a sorte no zerinho ou um, e é claro, lá fui eu furar o mutante. Após vários cálculos, respirei fundo e tampei a seringa na cabeça do sapão. Ele nem se mexeu e eu perdi a minha primeira seringa. O super-girino, além de enorme, tinha uma cabeça de pedra, pois a mortal agulha fez um “looping” na tentativa de perfurá-lo. Irritados com tamanha afronta, nós três começamos uma verdadeira sessão de acunpultura nazista no saltitante obeso que nos ignorava.
Quando achávamos que finalmente tinha morrido, ele dava um de seus pulões e nos desmoralizava. Se fosse hoje, eu beberia aquelas seringas todas(*) só pra ver se aquela merda funcionava mermo! Mas não adiantava, o “mal-sapão” não morria de jeito nenhum. Foi quando tivemos a brilhante idéia de cercarmos aquela área com fogo para que ele não pulasse para dentro da Vila onde vários militares e belicosos amigos do meu pai moravam. O fogo, pra variar, fugiu do nosso controle. Estávamos todos cercados, mas também muito dispostos a morrermos pela ciência, desde que conseguíssemos levar o sapo junto, é claro.
Na 94ª injeção de tudo que é ruim, o sapão começou a expelir um líquido branco pelas costas. Gritei desesperado para que saíssemos correndo, pois pior do que mijo de sapo no olho é porra de sapo nos córnios!
No dia seguinte voltamos ao local da experiência “Mengueliniana”. O matagal estava todo queimado. Começamos a procurar o torresmo de Jabah, mas nem sinal do bicho. Encontramos restos de várias outras espécies em extinção, pobres vitimas do nosso plano de jerico, mas o sapão havia conseguido se salvar. Foi a nossa primeira e última incursão no mundo da pesquisa arquibiológica e da Medicina (I)Legal. Depois disso passei a respeitar mais os linguarudos comedores de mosquito. Quando avistava um sapo-boi passando em frente lá de casa eu dava bom dia, boa tarde, pedia licença, essas coisas...
Isso já tem muitos anos. Foi bem antes de filmarem “Duro de Matar” ou “Highlander, o Guerreiro Imortal”, senão eu saberia que os sapos-bois são ancestrais diretos do Bruce Willlis e só morrem se cortarem suas cabeças. Mas o tempo passa e a gente descobre algumas coisas, como por exemplo..., pra quê ir atrás de sapo se eu gosto mesmo é de perereca?
(*) Esse texto foi escrito antes do autor doar o seu fígado à ciência.

2 comentários:

Anônimo disse...

Meu caro amigo Filds, que história mais escabrosa!!! Não acredito que você foi capaz de matar um animal tão adorável quanto um sapo! Realmente seu pai tinha todos os motivos pra distribuir bofetadas na molecada. Que infância, hein!!!
Beijos.
Gláucia.

Anônimo disse...

Faaala, Glauxinha! Bom te 'ver' por aqui!!
Mas quem disse que o miserável morreu?? Esse monstro tá na área desde a Era Paleozóica e vai continuar por muito tempo! ahahaha
Um beijão!!