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sábado, 29 de março de 2008

Liverpool – A Redenção (parte II)


De ‘balde’ na mão, cheguei pro Caio e falei que ia lá. “Vai lá aonde, rapá?”, perguntou o jauense bebum. “Vou lá tocar nessa porra!”, disse já pedindo pra ele segurar a minha cerva. O cara num levou fé, até porque acho que ele nem sabia que eu espancava a viola de vez em quando. Passei o copo, tirei o casaco, respirei fundo e pedi só uma coisa antes de passar no meio do pessoal rumo ao palco. “Registra essa porra, senão ninguém vai acreditar nessa estória!”.
Parti cheio de atitude em direção ao cara que estava no intervalo entre uma música e outra. Cheguei na beira do palco, bati na caixa de retorno como se estivesse pedindo permissão pra adentrar uma porta, e depois de pedidos de licença e desculpas cheguei pro tal músico e disse: “Olha só, eu sou brasileiro, vim do Brasil só pra conhecer o Cavern e queria te pedir pra tocar uma música. Esse é um momento histórico pra mim. PelamordeDeus!!!”. O cara riu, me chamou pra perto, disse que tava ok e perguntou quando eu queria tocar, se no meio do show, no final ou ‘agora’. Respondi que quando ele quisesse, quando fosse melhor pra ele, claro. Daí o cara chegou e mandou: “então toca agora!”. Fudeu! Pára tudo!! Putaquiupariu com todas as letras do mundo, disse eu pra mim mesmo sem acreditar em nada do que estava acontecendo! O cara (acho que o nome era Ryan) perguntou meu nome, me apresentou pra platéia e me passou a viola. Gelei da cabeça aos pés, não sabia nem mais pra que lado botar o violão, se eu era canhoto ou destro! Mesmo sem acreditar em santo disse por dentro “valei-me minha Nossa Senhora”! Daí tentei me apresentar dizendo que estava muito feliz por estar ali, que estava realizando um sonho, que aquela música era pro meu irmão que já tinha ido lá antes de mim e pro meu pai que me ‘apresentou’ aos Beatles e sempre quis ir. Bem, eu tentei dizer isso, mas estava tão nervoso que tenho quase certeza de que ninguém entendeu nada do que eu disse. Não lembro de nada que tenha me deixado tão nervoso quanto isso. Palco ou situação nenhuma havia me feito tremer nas bases daquele jeito. Literalmente!!
Subi lá pra cantar ‘Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band’ (a única que eu achei que conseguiria lembrar). Comecei a bater nas cordas do violão e, além do cagaço pela minha versão ser completamente diferente do original, uma ‘heresia’ naquela ‘casa sagrada’, a letra da música não vinha na cabeça de jeito nenhum. Nervoso é pouco! Eu já cansei de tocar isso pros quatro ventos, mas até as notas pareciam ter me abandonado...
Pra piorar, perto do palco tinha uma coroada que não mexia um músculo da cara, talvez alguns que já viram ‘os caras’ ao vivo e tudo. Fiquei apavorado. Olhei pro Caio e pra Su lá trás procurando uma cara familiar no meio da platéia pra mudar o foco e me concentrar no que tava tentando fazer. A cara de incrédulos dos dois não ajudava muito, mas foi o suficiente pra que letra e algumas notas ‘chegassem’. Comecei a cantar e suar que nem cão danado. A perna onde apoiava o violão não parava de tremer e eu estava pensando em tudo, menos na música. Tinha uma turma animada na parte de trás da platéia que me ajudou muito. Olhei pra eles e tinha uns cantando, dançando, bebendo (não necessariamente nessa ordem, mas valeu), enfim, eu não estava ‘tão errado’ assim. Ou eles é que estavam mais doidos do que eu. Manguáças à parte, sentei a porrada na viola do cara, berrei pra cacete, mas antes da metade da música já tava implorando pra aquilo acabar, pra aquele mal de Parkinson repentino largar de mim. Do meio pro fim a coisa melhorou, toquei e cantei com gosto graças ao Caio que a essa altura estava do lado do palco tirando fotos e da galera na ‘cozinha’ da platéia que parecia estar se amarrando. Terminei de tocar e o tal ‘Ryan’ chegou pra mim batendo palma (a platéia também! Puuuuuu...!), elogiando, pedindo pra tocar outra e tudo! “Ai meu Deus”, disse eu em código treme-treme. Agradeci muito e disse que não tinha condições, que tava nervoso pra cacete, quase me borrando todo. O cara se amarrou à vera, chegou no microfone e pediu palmas pro ‘Roberto do Brazil’. Foi aí que o ‘Mar Vermelho se abriu’, que o inacreditável aconteceu. Desci do palco e aquela coroada sizuda começou a se levantar, a me cumprimentar com apertos de mão e tapas nas costas dizendo “muito bom, muito bom...”, formando um corredor no meio da galera enquanto eu passava com todos fazendo o mesmo. Indescritívelmente fora de série! O que senti foi mais ainda! A turma da ‘retaguarda’ gostou muito mais do que eu conseguia ver durante a música, começaram a puxar papo, pagar cerveja, enfim, êxtase total! Vinte minutos depois ‘Ryan’ me chamou pro palco pra cantar com ele e assim foram mais num sei quantas. Dessa vez todo bobo, me achando ‘o cara’ (fora o manguaçal nas idéias!), toquei, cantei sem uma gota de suor, sem um béri-béri sequer! Tem muito mais estória, pois ele estava só abrindo o show pra banda que fecharia a noite. Preciso dizer que subi pra cantar com a banda? Depois de tocar sozinho no Cavern, mermão..., tocar com banda é mole!! Mandamos um ‘Roadhouse Blues’ dos Doors no melhor estilo (os caras tocavam pra cacete!) e me despendi da ‘Meca do Rock n’ Roll’ da forma mais incrível e inimaginável possível!

4 comentários:

Anônimo disse...

No comments...........
S-E-N-S-AC-I-O-N-A-L !!!!!!!!!!
E eu não estava lá....

Pipi disse...

Tô orgulhosa pra cassete! Ro

Anônimo disse...

E um dia ainda vou fazer de novo! So que melhor!! ahahahaha
Bjs, Beto.

Anônimo disse...

Porra! Desandou a escrever hein, cumpadi?! Li tudo... mas tive o privilégio de ouvir essa exxxxtória na íntegra por telefone, né super?! Vc me ligou às 3:00 da manhã aqui, eu disse: "-Alô? e vc: "- Super, eu toquei no CAVERN CLUB, Super... Super, eu toquei no CAVERN CLUB, Super... Super, eu toquei no CAVERN CLUB, Super... Super, eu toquei no CAVERN CLUB, Super... Super, eu toquei no CAVERN CLUB, Super... Super, eu toquei no CAVERN CLUB, Super... Super, eu toquei no CAVERN CLUB, Super..., valeu, bjão tchau!" e desligou! Perfeitamente compreensível!!! Não tinha nem como não entender! uahauhauahuahauhauhauahuah!!! Saudades ducaralho, malandro! Bjão!